Por Juliana Destro, consultora de negócios e especialista na Aestra Gestão e Negócios.
De acordo com dados da FGV, em 2024 o e-commerce responderá por cerca de 16% de todo o volume de vendas do varejo brasileiro, ante cerca de 9% registrados no período imediatamente anterior à eclosão da pandemia de SARS COVID.
Essa robusta expansão de share coloca o Brasil na décima posição do ranking mundial de crescimento de e-commerce.
Enquanto a média mundial de crescimento anual de receita de e-commerce é de cerca de 9,7%, no Brasil ela tem sido de impressionantes 17,2%.
O crescimento não se dá apenas em vendas, mas também, e especialmente, em número de usuários. Em 2023, 87,8 milhões de brasileiros, ou cerca de 43% da população nacional, fizeram pelo menos uma compra on-line.
Nada surpreendente para um país onde o número de smartphones em operação é maior do que a própria população nacional.
Com os millenials e a geração Z respondendo por mais de 50% do mercado consumidor do país, é de se imaginar que a tendência de expansão do e-commerce esteja longe de arrefecer.
A força desses dados nos faz pensar que a implantação de canais de e-commerce e modelos de negócios digitais seja uma constante nas empresas brasileiras. Surpreendentemente não é o caso.
Dados da FGV mostram que, desde a pandemia, o percentual de empresas brasileiras que não possuem operação de vendas on-line tem se mantido estável entre 30 a 35%.
Esses dados nos fazem questionar o quanto dessas empresas possuam modelos de negócio são passíveis de operação digital ou estejam satisfeitas com os modelos de negócio e operação atuais e o quanto dessas empresas estejam travadas antes de dar o primeiro passo e, de fato, debutar no mundo digital.
O primeiro passado da jornada é, sem dúvidas, um dos passos mais difíceis. Seja em empresas que já possuem operação estruturada para atender outros canais, seja em negócios que estão se estruturando para começar, a pergunta é a mesma: como começar?
Nossa experiência em implantação de projetos de e-commerce e em modelos de negócio digitais nos sugere que a melhor forma de dar o primeiro passo seja acreditar na caminhada.
Ou, em outras palavras, seja acreditar no poder da visão desdobrada em ações coordenadas e na capacidade que essas ações têm para colocar a empresa em movimento.
Assim, o primeiro passo é a ação que leva a empresa a caminhar por uma jornada ao longo de 3 dimensões:
1 – Visão e implantação do negócio
Tudo começa com a visão e prazo para atingi-la. Pode ser uma visão simples, sonhadora. Mas é fundamental que ela seja quantificável e simples, permitindo que a empresa inteira se envolva em seu atingimento.
2 – Desdobramento estratégico
A primeira coisa a fazer é desenhar o mix de produtos. O que a empresa vai oferecer? A que preço? Com qual posicionamento relativo face a seus competidores? Tendo a visão global de receita e o mix de produtos, a empresa passa a ter a possibilidade de desdobrar a receita projetada em um plano de produtos e preços. Importante desdobrar esse plano de produto a nível de categoria de produtos.
3 – Desdobramento operacional
Com a estratégia desdobrada, chegou a hora de colocar em marcha os passos operacionais. Tudo começa com o time. Como será a liderança do projeto? Qual o organograma? E o escopo de trabalho e responsabilidades? Quais os gates e momentos de decisão? Time implantado é hora de colocar datas. Qual o calendário do projeto? Começa-se pelo calendário do negócio, com as ações, promoções, de forma correlata ao calendário de varejo do negócio no qual a empresa atua. Com base nele se desdobra em ações de marketing, comerciais, logísticas e de atividades do time.
Importante ter o entendimento que, como todo plano, haverá correções de rota e replanejamento. Inclusive a ordem acima pode sofrer alterações, com muitas idas e vindas conforme as definições forem ocorrendo.
De todo modo, ao caminhar por essas 3 jornadas, a empresa já estará em marcha. Ela terá uma visão, uma forma de chegar a ela e estrutura e recursos para tanto.
Serão as escolhas feitas as melhores? Provavelmente não. Haverá retrabalho? Muito. Mas a empresa já estará em movimento.