Fernando Trabach Filho, administrador de empresas, aponta que o debate sobre IA e criatividade tem ganhado força à medida que algoritmos são capazes de produzir obras que imitam — ou até superam — criações humanas em termos de complexidade técnica e apelo estético. O surgimento de pinturas, músicas, textos e vídeos gerados por inteligência artificial coloca em xeque os limites da autoria, da originalidade e do valor artístico. A questão central que surge é: se uma máquina pode compor sinfonias ou criar imagens de impacto, isso pode ser considerado arte? E, se sim, qual o papel do artista humano nesse novo cenário? Esse debate mobiliza não apenas tecnólogos e artistas, mas também filósofos, juristas e o público em geral, exigindo uma reflexão mais profunda sobre a natureza da criação e os critérios de julgamento artístico na era digital.

IA e criatividade: reprodutora de padrões ou criadora de sentidos?
A discussão sobre IA e criatividade passa por compreender o funcionamento dos algoritmos gerativos. Sistemas como redes neurais e modelos de linguagem são treinados com vastos acervos de obras humanas, dos quais extraem padrões e estruturas que replicam ao gerar novas composições. A questão que divide opiniões é se a recombinação de dados pré-existentes constitui, de fato, um ato criativo. Muitos argumentam que a máquina apenas simula criatividade, enquanto outros defendem que o resultado final — mesmo vindo de uma fonte não consciente — pode ser esteticamente válido e impactante. De acordo com Fernando Trabach Filho, a criatividade tradicional envolve intenção, contexto e subjetividade, enquanto a IA opera com base em probabilidades e correlações. Ainda assim, não se pode ignorar que há valor nas obras produzidas por algoritmos, especialmente quando despertam emoções, reflexão e debate público, elementos tradicionalmente associados à arte.
Autoria, valor e o novo papel do artista
A produção artística mediada por inteligência artificial também desafia o conceito de autoria. Quem é o autor de uma obra gerada por IA: o programador, o usuário que deu os comandos, a base de dados usada no treinamento ou a própria máquina? Essa indefinição jurídica e filosófica tem implicações diretas na atribuição de direitos autorais e na valorização do trabalho artístico. A criação automatizada levanta o risco de desvalorização da arte humana, especialmente em mercados como design, ilustração e música comercial. Por outro lado, há quem veja na IA uma aliada do artista, ampliando suas possibilidades técnicas, acelerando processos e inspirando novas formas de expressão. Segundo Fernando Trabach Filho, em vez de substituir a criatividade humana, a inteligência artificial pode atuar como uma extensão dela, desafiando o artista a explorar fronteiras inéditas e a dialogar com a tecnologia em busca de novas estéticas.
Estética algorítmica e o papel do espectador
Outro aspecto relevante na relação entre IA e criatividade diz respeito ao papel do público. Em última instância, é o espectador que valida a obra como arte ou não. Se uma pintura feita por um algoritmo emociona, instiga ou provoca reflexão, isso pode ser suficiente para legitimá-la no campo artístico. A chamada estética algorítmica — marcada por obras geradas a partir de processos matemáticos — ganha espaço em galerias, feiras e plataformas digitais, apontando para uma ampliação do conceito de arte. Conforme ressalta Fernando Trabach Filho, a arte contemporânea já se habituou a incorporar novos suportes e linguagens, como vídeo, performance, instalações digitais e NFTs. Nesse sentido, a IA é apenas mais uma ferramenta que amplia o repertório expressivo, mas não elimina a necessidade de curadoria, interpretação e crítica.
Considerações finais
A complexa relação entre IA e criatividade convida à revisão de antigos paradigmas sobre o que é arte, quem pode produzi-la e como ela deve ser avaliada. Embora algoritmos não tenham consciência ou emoção, o impacto de suas criações sobre o público é inegável. A inteligência artificial, longe de eliminar o papel do artista, pode expandi-lo, propondo novos meios de criação e novos olhares sobre o mundo. O desafio está em construir um ecossistema ético, transparente e inclusivo, que valorize tanto a inovação tecnológica quanto a sensibilidade humana. O futuro da arte dependerá da capacidade de equilibrar máquina e humanidade, técnica e sensibilidade, cálculo e imaginação.
Autor: Popov Smirnov