A economia do Brasil cresceu 0,8% nos primeiros três meses de 2024, na comparação com os últimos meses de 2023, segundo dados divulgados nesta terça-feira (4/6) pelo IBGE.
Os setores que contribuíram para o crescimento da economia foram serviços (alta de 1,4%) e agropecuária (alta de 11,3%). Ao longo do último ano, o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu 2,5%.
Os números do IBGE mostram que a economia brasileira está crescendo ligeiramente mais devagar do que no final de 2023, quando havia crescido 2,9%.
Mas o PIB ainda está em um ritmo acima das previsões para o final deste ano — que é em torno de 2%.
Economistas esperam que no próximo trimestre (abril, maio e junho) a economia brasileira sinta os efeitos das graves enchentes no Rio Grande do Sul.
O índice de 0,8% confirma as previsões de lenta retomada da economia brasileira — e o coloca em linha com diversas economias internacionais.
Em comparação com os demais países do G20 (as 20 maiores economias do planeta), o Brasil teve crescimento superior ao dos países europeus e dos Estados Unidos, mas segue atrás de emergentes como Turquia, China e Índia.
A economia mundial está vivendo um momento de crescimentos desiguais, segundo analistas e entidades internacionais — com alguns países se recuperando mais rapidamente do que outros dos choques econômicos desta década.
Depois dos anos da pandemia de covid e o choque inflacionário que se seguiu a ela (dois fenômenos que foram sentidos em praticamente todos os lugares do planeta), os países estão agora em diferentes momentos da sua trajetória de recuperação.
Os números indicam que o Brasil ainda vive um momento de recuperação — mas com previsões de crescimento mais modestas do que as realizadas nos últimos anos.
Em 2020, o PIB brasileiro contraiu 3,3%, e nos anos seguintes houve recuperação em todos os anos: 5% (2021), 3% (2022) e 2,9% (2023).
Para este ano e para 2025, o governo, o mercado e entidades internacionais projetam uma taxa anual de crescimento em torno de 2%.
“Impulsionadas pelo crescimento robusto do emprego, pelos aumentos do salário mínimo e pela diminuição da inflação, espera-se que o consumo das famílias seja o principal motor do crescimento, especialmente em 2024”, afirma em um relatório recente a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre suas expectativas em relação ao Brasil.
Crescimento desigual: os líderes
Os três países que registraram as taxas de crescimento mais robustas este ano foram a Turquia, a China e a Índia até agora.
A economia turca cresceu 1,6% no primeiro trimestre deste ano. Mas a Turquia está ainda no meio do seu ciclo de aumento de juros, já que o país enfrenta uma das maiores taxas de inflação do mundo – de 75% por ano.
Uma das surpresas desse ano, segundo o FMI, tem sido a economia da China. Na semana passada, o Fundo revisou a previsão de crescimento em 2024 para 5% — 0,4% a mais do que o projetado anteriormente.
O país vinha sofrendo desaceleração devido a uma crise no mercado imobiliário doméstico. Recentes medidas do governo contra essa crise ajudaram a reverter as expectativas dos economistas.
Outra economia com crescimento robusto é a Índia — uma tendência que já dura décadas. Com exceção dos anos da pandemia, a economia indiana registra crescimentos anuais acima de 5% há 14 anos.
O governo da Índia divulgou apenas dados anualizados (e não em comparação ao trimestre anterior) deste primeiro trimestre de 2024 que indicam um crescimento de 7,8% nos últimos 12 meses. Economistas dizem que o resultado surpreendeu positivamente e as perspectivas para o país são boas.
Analistas preveem que o crescimento econômico vai se sustentar ao longo do ano e que o primeiro-ministro, Narendra Modi, — favorito para vencer as eleições que estão tendo seus votos contados nesta semana — terá US$ 25 bilhões em superávits para gastar em investimentos governamentais.
Crescimento desigual: os demais
Uma das decepções neste primeiro trimestre do ano foi a economia dos Estados Unidos — que é considerada central para recuperação global.
O crescimento econômico veio abaixo do esperado — com taxa anualizada de 1,6%, contra expectativas de 2,4% de economistas e 4,9% no trimestre anterior.
E a inflação não está caindo no ritmo esperado, o que pode prolongar o período de juros mais altos na economia americana (leia mais sobre os EUA mais abaixo nesta reportagem).
A economia com pior desempenho entre os países do G20 é a do Japão. O país enfrentou recessão técnica no final do ano passado (dois trimestres consecutivos de crescimento negativo) e perdeu o posto de terceira maior economia do mundo para a Alemanha (os primeiros lugares são ocupados por EUA e China, respectivamente).
O baixo gasto dos consumidores tem impedido a economia japonesa de crescer. A desvalorização da moeda nacional também teve um papel importante na queda do Japão em relação à Alemanha.
Outro país com perspectivas de baixo crescimento é a Argentina, que ainda não divulgou os dados referentes ao primeiro trimestre deste ano. O país vem passando por um choque de medidas econômicas promovidas pelo novo presidente, Javier Milei, que promete cortar gastos para segurar a inflação, que é recorde no G20.
A inflação mensal argentina caiu para baixo de 9% no mês passado — após ter atingido 25% em dezembro. A OCDE prevê contração de 3,3% da economia argentina este ano, seguida por crescimento de 2,7% no ano que vem.
Na Europa, as principais economias — Alemanha, Reino Unido e França — registraram crescimento de menos de 1% este trimestre.
No Reino Unido, a principal notícia foi a queda da inflação, o que sinaliza que os juros também podem cair, dando início a uma recuperação mais forte. A inflação anualizada em abril foi de 2,4% — depois de ter atingido 11% em outubro de 2022.
A economia é um dos pontos centrais da eleição britânica, que está marcada para 4 de julho.
Já a economia alemã passou por uma revisão drástica de expectativas no começo do ano — com o governo rebaixando sua previsão de crescimento em 2024 de 1,9% para 0,3%. O ministro da Economia, Robert Hadeck, disse que a economia alemã está atravessando “águas turbulentas” e que a recuperação está sendo bem mais lenta do que o antecipado.
A Europa segue com a inflação em lento declínio, e com crescimento econômico modesto. Analistas esperam que o Banco Central Europeu vá promover na quinta-feira (6/6) o primeiro corte na taxa de juros da zona do euro desde 2019.
Quatro países ainda não divulgaram seus PIBs do primeiro trimestre de 2024: África do Sul, Austrália, Argentina e Rússia.