Michael Cohen, ex-adbogado e “ex-faz tudo” de Donald Trump, disse aos jurados nesta segunda-feira (13) que combinou secretamente com o empresário e o editor-chefe de um tabloide um esquema para silenciar histórias negativas que poderiam prejudicar sua campanha presidencial em 2016.
Antes um dos ajudantes mais leais de Trump, Cohen é agora a principal testemunha da acusação no julgamento sobre o ex-presidente supostamente ter escondido ilegalmente a compra do silêncio de uma estrela de filmes adultos.
O julgamento está entrando em sua quinta semana, sendo realizado em um tribunal criminal do estado de Nova York, em Manhattan.
O foco do caso é o pagamento de US$ 130 mil de Cohen para Stormy Daniels antes das eleições de 2016, com o intuito de impedi-la de falar em público sobre relações sexuais em 2006 que ela afirma ter tido com Trump.
Cohen relatou que ele, Trump e o editor-chefe do National Enquirer, David Pecker, concordaram em usar o tabloide para impulsionar a candidatura de Trump à Presidência dos EUA, bloqueando histórias negativas que poderiam prejudicar suas chances.
Em junho de 2016, um mês antes da Convenção Nacional do partido Republicano, Cohen disse ter descoberto pelo Enquirer que a ex-modelo da Playboy Karen McDougal estava tentando vender uma história sobre um caso que afirmou ter tido com Trump durante um ano.
“Certifique-se que isso não seja publicado”, teria dito Trump, de acordo com Cohen.
Os jurados ouviram uma gravação que Cohen pontuou ter feito de uma ligação na qual o ex-presidente pergunta: “Então, o que temos que pagar por isso? 150?”.
Segundo o ajudante, Trump estava se referindo ao reembolso de um pagamento de US$ 150 mil para Pecker feito pelo Enquirer para adquirir os direitos exclusivos da história de McDougal.
Na gravação, o republicano também pode ser ouvido orientando Cohen a pagar em dinheiro, o que, de acordo com o ajudante.
Em um depoimento anterior ao julgamento, Pecker ressaltou que comprou a história de McDougal para garantir que nunca fosse publicada.
Os promotores destacaram que o pagamento a Stormy Daniels era parte da mesma operação de “catch and kill” (“pegar e matar”) entre Trump, Cohen e Pecker para pagar pessoas com histórias potencialmente negativas sobre o empresário, violando leis de financiamento de campanha.
Donald Trump é acusado de ter escondido o pagamento a Daniels, reembolsando Cohen com um honorário legal falso, registrado irregularmente nos arquivos de sua empresa imobiliária.
Segundo os promotores, os registros comerciais adulterados acobertaram violações de leis eleitorais e fiscais. Com isso, as 34 denúncias contra Trump seriam elevadas de contravenções a crimes, puníveis com até quatro anos de prisão.
O republicano se declarou inocente de todas as 34 acusações e nega que teve relações sexuais com Daniels. Ele argumenta que o caso é uma tentativa de interferir em sua campanha por motivos políticos.
Por quase uma década, Cohen, de 57 anos, trabalhou como executivo e advogado para a empresa de Donald Trump e chegou a dizer que levaria um tiro por ele.
O ex-presidente republicano disputará a Casa Branca com Joe Biden em eleição marcada para 5 de novembro.
Cohen é alvo frequente de Trump
Cohen, que foi advogado pessoal do ex-presidente após o começo do seu mandato presidencial em 2017, rompeu com o republicano durante um inquérito de promotores federais sobre a campanha presidencial de Trump em 2016.
Em 2018, Cohen declarou-se inocente de violar leis federais de financiamento de campanha ao pagar Daniels e prestou depoimento dizendo que Trump o orientou a fazê-lo. Promotores federais não denunciaram Trump por nenhum crime.
Cohen tornou-se um dos maiores críticos de Trump. Na sexta-feira, o juiz Juan Merchan pediu aos promotores que falassem com Cohen para que ela pare de fazer declarações públicas sobre o caso.
Cohen admitiu ter mentido sob juramento várias vezes, o que oferece um material substancial para a defesa tentar minar a sua credibilidade.